sábado, 21 de novembro de 2015

Camisinhas e sustentabilidade


                  O dia a dia em uma escola nem sempre é a mesma coisa, mesmo que digam o contrário – como a piada: um homem despertou após duzentos anos de sono e se sentiu em casa quando entrou em uma escola. O negócio não é bem assim. Bom pelo menos na minha.
            Estava na época da Feira de Ciências da escola. Fiquei responsável pelas inscrições dos trabalhos. Este ano o tema é sobre a sustentabilidade do planeta. Em uma manhã três meninas do primeiro ano adentram a sala e pedem para inscrever um trabalho.
- Qual o título do trabalho?
- Reciclagem de camisinha.
-...? Não entendi...
- Resolvemos fazer esse trabalho para a feira escolar por ser um tema pertinente ao nosso tempo.
- Reciclar camisinha? Tema pertinente?
- É. Sim.
- Camisinha usada, naturalmente...
- Sim.
- Evidentemente vão coletar camisinhas (entrecortado com um sorriso)?
- Isto mesmo.
- Vão pedir camisinhas usadas em motéis?
Sérias:
- É uma boa ideia. Tínhamos pensado em recolher nas casas.
- É... Vão chegar às casas, bater palma e perguntar se tem camisinha usada? - É.
- Por acaso não pensaram em passar a noite em carros estacionados pedindo às camisinhas que por ventura estejam usadas?
- Meu pai não deixa sair à noite.
- É... (segurando o riso)...Não deixa. E depois da coleta? Qual o próximo passo?
- Vamos trazer para o colégio...
Assustado, sem sorrir:
- Para o colégio? NÃO.
Todas juntas:
- Não?
- Sim, quer dizer não. O colégio não é um local ideal. Não tem lugar para depósito dessas camisinhas. Além do que outros alunos podem roubar essa brilhante ideia (complacente).
- Então levamos para casa e lavamos.
- Vão lavar as camisinhas... (perplexo)?
- Sim.
- Depois de lavadas vão distribuir para os jovens? Brilhante!
Elas pasmadas:
- Não! O que vão pensar de nós professor?
- Não? O que vão fazer então?
- Vamos secar e usá-las como bexigas de festas aqui no colégio.
- ...?
- Estaremos dessa maneira ajudando na sustentabilidade do planeta.
- Então tá...

            Esses jovens têm ideias mirabolantes... Apenas temos que não entrar de cabeça, se proteger, senão vamos acabar soprando bexiga...

sábado, 7 de novembro de 2015

Descoberto o filme que o Brasil não podia ver, por Urariano Mota


https://vimeo.com/134849043

Por Urariano Mota*
Meus amigos, aquela frase do personagem Corisco em Deus e o Diabo na Terra do Sol, quando ele grita: “Mais fortes são os poderes do povo” , eu posso agora adaptar para “Mais fortes são os poderes da pesquisa coletiva na internet”. A razão não é gratuita. Chegou para mim, hoje, a revelação de que, finalmente, o Brasil pode ver o documentário que, há muitos anos, jornalistas brasileiros e pesquisadores desejavam ver.
Há 5 anos que o procurava. Em registro público, em agosto de 2012 publiquei um texto sobre a minha busca pelo documentário “Brazil: The Troubled Land”. Esse é um filme que narra a luta pela terra em Pernambuco, realizado para a rede de televisão norte-americana ABC, com imagens de 1961. Mas ninguém sabia informar, até parecia uma lenda. Ao fim de muitas buscas, descobri que o filme existia na Universidade Indiana. Agora seria fácil, pensei. Mas a resposta não tardou, no inglês que traduzo aqui livre e mal:
“Agradeço pelo contato para a pesquisa do filme  Brazil: The Troubled Land. Ele pertence ao arquivo da coleção da Biblioteca da Universidade de Indiana. Reenvio para a arquivista responsável”, que respondeu:
“Para o acesso ao filme que você pesquisa, o ‘Brazil: The Troubled Land’, nós não o temos digitalizado ou em cópia para ser visto. No momento, o filme está disponível somente nesta biblioteca, ou então, se você desejar obter permissão do proprietário dos direitos autorais, nós  poderíamos fazer uma cópia em DVD para você emprestar ao escritor brasileiro. A McGraw Hill é a editora dona do filme”. 
Mas a poderosa McGraw Hill, apesar dos meus pedidos, nada me respondeu para  a liberação de uma cópia. Em desespero de causa, cheguei a solicitar até mesmo a compra de um exemplar, com a ajuda, é claro, de outros jornalistas brasileiros, que também o procuravam. Nada. Mais uma vez, por razões de Estado primeiro, depois por razões do capital, o Brasil deixava de ver a própria cara, num flagrante das relações históricas de opressão em 1961.
The Troubled Land havia sido visto nos Estados Unidos, onde alcançara grande repercussão, mas nunca passou nos cinemas ou na televisão brasileira. O Conselho de Segurança Nacional o julgara inconveniente para os padrões nacionais.
Mas não desisti. Quase um ano depois, em março de 2013, publiquei um texto cuja introdução observava que a melhor diferença da imprensa na web sobre a do grande capital era a liberdade de pensamento.  E que havia um valor a mais de um texto na internet sobre o de papel: era a  sua permanência, com acessos infinitos no tempo  e espaço para a leitura. Assim havia sido com a coluna "Procura-se um documentário sobre o Brasil”, publicada em agosto de 2012. Ela me fizera receber um presente que eu não imaginava.
Recebi então fotos históricas do filme, e a revelação (perdoem a palavra) de um fotógrafo de 76 anos, em 2013, que os estudiosos do  cinema não sabiam existir. Era o espanhol Fernando Martinez Lopez, que me enviara fotos maravilhosas em preto e branco do documentário “Brazil, the troubled land”. Fernando Martinez, a partir das perguntas feitas por este curioso, assim se apresentou:
Após busca  entre 4000 negativos, encontrei as fotos, algumas estragadas pelo tempo. Sou espanhol, casado com brasileira e filhos e netos brasileiros. Trabalhei no filme como Still fotógrafo e também como cinematographer....
Helen (Helen Rogers, a diretora do documentário) era uma americana bonita e muito inteligente, casada com um cineasta, eles deixaram dois filhos. Para mim, ela era pró-Estados Unidos, pois este filme foi feito justamente para que o Brasil não se tornasse uma nova Cuba. (Negrito do colunista) Foi filmado na Zona da Mata de Pernambuco, para filmar a vida de um camponês. Na feira de Carpina encontrou um Severino, cortador de cana, que trabalhava para Constâncio Maranhão. A filmagem demorou aproximadamente 25 dias, tendo a contribuição da Sudene para transporte etc.”.
Então vinham raridades nas fotos: Helen Rogers, Francisco Julião, Eva (tradutora) e Bill Hartigan. Era um flagrante da política traiçoeira dos Estados Unidos, que enviara uma bem intencionada cineasta ao Nordeste do Brasil, para que documentasse uma nova Cuba em território pernambucano. Mas o filme que era bom, mesmo, nada. E assim se passaram mais de dois anos.
Hoje, me chega pelo face um recado, postado pelo jovem historiador Felipe Genú, com estas palavras:
“Senhor Urariano, li um texto seu de 2012, onde o senhor estava à procura do documentário The Troubled Land, da ABC. O senhor já o encontrou?”
Respondo:
“Não, Felipe, ainda não. Eu desejava mais esse documentário quando escrevia o meu romance "O filho renegado de Deus". Mas o meu interesse continua.”
E o imprescindível pesquisador  Felipe Genú:
“Senhor Urariano, eu sou historiador, e no momento estou escrevendo uma dissertação sobre o Teatro de Cultura Popular do MCP, do governo Arraes. Depois de ouvir falar no The troubled land, fiquei muito interessado, e pesquisando encontrei uma versão dele posta na internet pela School of Cinematic Arts. Eles o postaram num site chamado vimeo. Basta o senhor se cadastrar e buscar ‘Brazil The troubled land’ que vai aparecer o documentário”
Tudo que pude responder foi:
“Genial, Felipe. Muito obrigado, rapaz”.
E agora, amigos, para todo o Brasil, o vídeo que o grande público não podia ver, que era um verdadeira lenda de pé de cobra. Vejam Francisco Julião em 1961, Celso Furtado na Sudene em entrevista, o latifundiário Constancio Maranhão a se exibir dando tiros para mostrar qual era a sua lei para os camponeses sem terra. 

Direito e Literatura - As vinhas da ira


Oklahoma, Grande Depressão. Tom (Henry Fonda), filho mais velho de uma pobre família de trabalhadores rurais, retorna para casa após cumprir pena por homicídio involuntário. Ele planeja levar os parentes até a Califórnia, onde dizem que trabalho não falta. Durante a viagem eles passam por diversos tipos de provações e quando finalmente chegam na "Terra Prometida" descobrem que é um lugar bem pior do que aquele que deixaram.

Direito e Literatura - As vinhas da ira